terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Amar se aprende amando

 


"O mundo é grande e cabe / nesta janela sobre o mar. / O mar é grande e cabe / na cama e no colchão de amar. / O amor é grande e cabe / no breve espaço de beijar."

(Carlos Drummond de Andrade, Record, 1985)


Christiane Angelotti


Hoje, véspera de Natal, resolvi falar sobre o amor, essa força que move minha vida, minhas escolhas e o que mais importa nas relações que cultivo.

Este tem sido um ano de profundas descobertas sobre o amor. Acho que, como todo tema que nos atravessa, o amor nos traz surpresas, novos tons, novas formas de olhar, sempre nos convidando a ir além do que conhecemos.

Minha psicóloga me diz, repetidamente, que o amor é uma aprendizagem constante. Ele é múltiplo, e ao mesmo tempo simples, é um movimento que se reconfigura a cada passo. Não é estático. Nunca será. O amor se ensina no próprio ato de amar. E ao amar, a gente aprende a si, e ao outro. Sempre há algo novo a ser compreendido. Porque amar, me parece, não é só para quem está pronto, mas para quem está disposto.

E, em todas as formas de amar, há sempre uma verdade. Será que existe um "amor verdadeiro"? E o que seria isso? O que é, afinal, o amor? Talvez ele seja menos uma definição e mais uma entrega. Cada gesto, cada olhar, cada ato de carinho, pode ser uma forma legítima de amar. Eu penso que o amor não se limita a um rótulo. É o que nos é mais íntimo, e ao mesmo tempo, o que não conseguimos entender de todo.

O que damos no amor é o melhor que temos. É o que conseguimos oferecer no momento, mesmo que às vezes isso não pareça suficiente. Já aprendi que, apesar de tanto saber sobre ele, o amor ainda me surpreende, e, muitas vezes, sinto que pouco sei. Sei que o amor tem o poder de aliviar a dor, de nos libertar, de nos fazer ver a beleza nas pequenas coisas e nos tornar mais humanos. Ele nos tira da zona de conforto, nos faz acreditar não apenas no outro, mas em nós mesmos. O amor tem a capacidade de salvar vidas, e nos ensina a salvar, de fato, a nossa própria.

Já amei alguém que partiu de mãos dadas comigo. O amor é parceria, é presença, é abraço. Mas também amei e deixei partir, porque o amor não é prisão. Ele não é cárcere. Ao contrário, ele nos liberta, mesmo quando é doloroso.

Os filósofos, em suas inúmeras reflexões, dizem que o amor é o caminho para a sabedoria. A Psicologia nos ensina que ele envolve intimidade, paixão, confiança, cuidado. Eu concordo, mas sei que ele é mais que isso. Ele não se acomoda em uma fórmula. O amor é uma experiência em constante reinvenção. E talvez o desafio maior seja aceitá-lo como algo que nunca terá um fim, mas que se transforma enquanto existe.

O amor não é confortável. Ele pode nos trazer paz, mas também nos tira do centro. Nos desafia, nos exige mais do que estar perto. Ele nos pede presença real, nos exige que nos mostremos vulneráveis e que aceitemos o que não podemos controlar. O amor exige coragem. Ele nos coloca frente aos nossos medos mais profundos e nos pede para superá-los.

É comum que o medo nos paralise. E, por medo, buscamos o conforto nas relações fáceis, naquelas que não nos exigem transformação. Mas ao fazer isso, nos afastamos da essência do amor. O amor não se acomoda. Ele nos obriga a olhar para dentro e a reconhecer quem somos de verdade, quem podemos ser, mesmo diante do caos. Ele nos força a crescer, a nos reinventar.

Não podemos dominá-lo, não podemos segurá-lo. O amor exige que soltemos as certezas, que enfrentemos nossos próprios fantasmas. Às vezes, no caminho de compreendê-lo, nos perdemos, para então nos reencontrarmos, mais plenos, mais inteiros. O amor nos reconecta com a nossa verdadeira essência.

Mas há algo ainda mais profundo no amor: ele é também um convite a nos transformarmos. Amar é estar disposto a acolher o outro em sua totalidade, com todos os seus medos, falhas, e também com suas potências. E, paradoxalmente, ao acolher, somos acolhidos. Somos transformados pelo ato de doar e de receber amor. Eu aprendi, recentemente, que sentir amor é, talvez, mais incrível do que ser amado. O amor nos expande de formas que nem sabemos ao certo como descrever. Ele nos conecta com algo maior, que vai além de nós mesmos.

O amor não é só aquilo que nos faz sentir bem. Ele é, acima de tudo, o que nos ensina a viver de maneira mais profunda, mais genuína. Ele desafia nossa zona de conforto, nos tira do centro e nos coloca em posições que exigem coragem. Amar, talvez, seja isso: crescer. Aprender a ser mais, a dar mais, a viver mais.

Amar é abrir-se para o desconhecido, para o que não podemos controlar, mas que, de alguma forma, nos faz sentir vivos. O amor é transformação. O amor é liberdade.


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