Christiane Angelotti
Capturei alguns em uma noite
linda no sítio dos meus tios. Não foi nada difícil, havia vaga-lumes por toda
parte. A grama molhada esfriava meus pés descalços, e o cheiro doce de terra
úmida se misturava ao som dos grilos, enquanto eu corria pelo campo atrás das
pequenas luzes flutuantes.
Prendê-los no pote me deu uma
sensação de vitória. Eu venci! – Pensei (acho que até gritei). Mesmo sem saber
o que. Somos condicionados a vencer, de modo que estamos quase sempre
disputando algo, mesmo que seja com nós mesmos. Era como se capturá-los fosse
um atestado de que eu tinha poder sobre algo, mesmo sem saber exatamente o quê.
Talvez fosse uma necessidade de provar que eu também brilhava.
No começo os vaga-lumes voavam em
círculos dentro do pote. Depois passaram a se chocar contra as paredes de
vidro. Um a um pousavam no fundo. Finalmente, contei. Eram cinco. Aos poucos,
percebi que algo estava errado. O brilho mágico que eu tanto queria aprisionar
parecia se render à escuridão. O pisca-pisca começou a espaçar, foi
enfraquecendo, e toda a luminescência se apagou de vez. Meu peito apertou, como
se fosse culpa minha apagar o que era tão belo. Observando, esqueci de fazer o
meu pedido.
Que azar! Não lembro o que eu ia pedir. Provavelmente um dia
de paz na minha casa, sem brigas, com comidas gostosas, música e sorrisos. Como
nos dias de festa. Os pedidos de uma menina de oito anos. Hoje, adulta, pediria
viagens, um amor (os dois juntos de preferência) e saúde para quem eu amo.
Talvez a saúde para quem eu amo venha em primeiro lugar. Engraçado como os
pedidos mudam, mas a essência continua a mesma: algo simples, como dias de
festa, ou algo profundo, como saúde e amor. Talvez eu nunca tenha parado de
procurar uma forma de capturar momentos mágicos.
Dentro do pote de vidro, que
outrora peguei emprestado da minha avó para caçar vaga-lumes, havia farelos de
biscoitos caseiros que assei no dia anterior para receber amigos para um café.
Mas também guardava a lembrança de um passado quando acreditei que poderia
controlar a natureza das coisas. O pote, que um dia guardou meus vaga-lumes,
agora carrega migalhas de afeto em forma de biscoitos. Ele me lembra de como a
vida é isso: tentamos segurar a mágica, mas ela sempre encontra um jeito de se
transformar.
Foi naquele momento que aprendi
uma das primeiras lições da minha vida: a mágica não seria minha quando
conseguisse prendê-los no pote de vidro. Ela seria minha quando soubesse
apreciá-los livres, piscando e iluminando as noites escuras. Essa lição ainda
ecoa em mim. Talvez seja assim com tudo que amamos — pessoas, momentos, sonhos.
A mágica está em deixá-los livres, em apreciá-los como são, sem tentar
aprisioná-los em nossos potes de expectativas.
Isso, a mágica está em saber apreciar o que amamos, livres.
ResponderExcluirObrigada pela leitura!
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