Christiane Angelotti
Para o meu amigo Raphael
Chamaram-no de aventureiro,
Mas você sempre soube que buscava algo maior: o amor.
Sabia o quanto amar é transformador, o quanto cura a dor.
Mas não via o amor à sua volta.
E então, perdeu o sorriso de menino.
Vestiu roupas de soldado e partiu para uma jornada
inesperada.
Não era uma guerra, mas até parecia.
Procurar o amor era o objetivo, mesmo que fosse preciso se
arriscar.
E assim, lançou-se ao mar.
Sem olhar para trás, fixou os olhos no sol nascente.
O sol, como a esperança, encheu-lhe o peito.
Entrou na embarcação e segurou firme o leme,
Atravessando mares e tempestades,
Deixando para trás decepções, alegrias, amigos e família.
Acreditou que o amor o esperava do outro lado do oceano,
Em uma cidadezinha pitoresca,
Abrindo a janela, varrendo a calçada,
Ou numa exposição no museu.
Talvez estivesse no banco de um ônibus, na fila do pastel,
Ou chegando com os últimos raios do pôr do sol.
Mas o tempo foi passando.
Mais um pôr do sol e nada.
A esperança foi se apagando.
Seria o amor algo que ele deixara no início da jornada?
Toda essa travessia teria sido em vão? Não teria servido
para nada?
Pensou nas tantas coisas que havia deixado para trás,
E o peso da dúvida o assombrou:
Será que encontrou o amor, mas não o reconheceu?
Ou escolheu um caminho que o afastou?
Foi então que percebeu:
Para encher a mala, é preciso esvaziá-la primeiro.
Para enxergar melhor, às vezes basta ajustar as lentes,
Ou simplesmente limpá-las.
E ajustando o prumo da embarcação, seguiu acreditando.
O melhor da vida está por vir.
O melhor pôr do sol, a melhor companhia,
A melhor risada, a melhor viagem.
Mas também percebeu que o melhor
Já estava dentro dele o tempo todo.
Precisou atravessar oceanos para ter coragem
De mergulhar em si mesmo.
Agora, vê o amor onde outros não enxergam.
Aprecia o tempo, o vento, os momentos.
Sabe que, como um imã, atrairá tudo o que precisa.
Porque o melhor é o presente,
E também o que ainda está por vir.
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