domingo, 26 de janeiro de 2025

À Sombra do Baobá

 

Christiane Angelotti


Sempre me encantei pelos baobás. Árvores imensas, originárias do continente africano, que parecem guardar, em seus troncos sulcados, histórias tão antigas quanto o mundo. Elas erguem suas copas contra o tempo, como guardiãs silenciosas de mistérios que talvez nunca compreendamos. Não é à toa que são consideradas sagradas para as religiões de matriz africana. Há algo nelas que inspira reverência, como se carregassem um segredo sobre a vida e a resistência.

Entre os baobás que conheci através das histórias, o Chapman me marcou profundamente. Ele era um gigante de Botsuana, com cerca de 25 metros de circunferência e 5.000 anos de idade. Era chamado de Sete Irmãs, por seus sete troncos que pareciam se abraçar, formando uma imagem de união, força e acolhimento. Saber que um dia existiu uma árvore tão majestosa e que ela não está mais aqui traz um tipo peculiar de melancolia.

O Chapman morreu em 2016, depois de mais de uma década sem água suficiente. E pensar nisso dói. Afinal, os baobás são conhecidos por armazenar água em seus troncos, o que os torna símbolos de resiliência. Mas até mesmo eles têm limites. Descuidar do essencial, mesmo para um ser tão forte, é fatal.

Esse ciclo de resistência e fragilidade me faz pensar no amor, tema recorrente para mim. Quantas vezes nos entregamos a amores que parecem prometer abrigo, mas acabam nos esgotando? Tentamos ser fontes inesgotáveis de cuidado, esquecendo que também precisamos ser nutridos. Como os baobás, acumulamos força para resistir às secas da vida, mas sem o sustento necessário, rachamos, enfraquecemos, até não conseguirmos mais.

Talvez o que mais me toque no Chapman seja justamente o simbolismo das Sete Irmãs. Elas se apoiavam, cresciam juntas, mas não conseguiram sobreviver ao abandono. Isso me faz pensar nos amores que vivem de promessas, mas nunca encontram o solo fértil da reciprocidade. Não é sobre desistir, mas sobre reconhecer quando algo não pode florescer.

O Chapman me ensinou que mesmo os gigantes precisam de cuidado. Que o amor mais verdadeiro começa com a atenção a si mesmo. Resistir é lindo, mas saber parar para cuidar das próprias raízes é um ato de coragem.

Os baobás são metáforas vivas. Majestosos, fortes, mas profundamente dependentes do essencial. Assim somos nós. Amar é grandioso, mas para que nossas próprias histórias sobrevivam ao tempo, é preciso equilíbrio. A lição do Chapman é clara: cuidar do que nos mantém de pé, nos amarmos é tão importante quanto amar o outro. E isso, talvez, seja o maior mistério que os baobás guardam.

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