Christiane Angelotti
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* Eros e Psiquê, de Antonio Canova |
Aqui estou eu novamente, falando sobre o amor. Talvez eu goste de me desafiar a abordar esse tema que me é tão caro, tentando esgotar as possibilidades de descrevê-lo sem cair nos clichês. Nesse processo, reflito e aprendo. Convido você a refletir comigo também.
O amor. Palavra frequentemente dita, desejada, sonhada, mas que, muitas vezes, parece flutuar como um perfume efêmero. O que, afinal, é o amor? É um sentimento que se expressa em gestos, em olhares, em palavras sussurradas ao pé do ouvido? Ou, talvez, uma presença que se faz sentir mesmo na ausência?
Penso no amor que se manifesta no presente, no aqui e agora. Por favor, não me ame amanhã. Quero ser amada hoje. Sou imediatista, eu sei, mas não economizo afeto. O amor não espera o futuro, não se esconde atrás de telas e curtidas nas redes sociais. Desejo o amor que se atreve a ser dito, a ser vivido, a ser sentido. Porque o amanhã pode ser tarde demais.
O tempo é um ladrão silencioso. Ele pode levar consigo as oportunidades de dizer "eu te amo", de abraçar, de estar presente. Afinal, ninguém sabe quanto tempo tem. E, mesmo assim, quantas vezes oferecemos amor e recebemos em troca apenas migalhas? Quantas vezes manifestamos afeto por meio de uma lembrança, um recado, uma mensagem carinhosa, um incentivo e nos deparamos com o eco do silêncio? Com respostas mornas, espaçadas, distraídas? O amor, que deveria ser um fio invisível a nos unir, se desmancha na frieza do cotidiano.
Estou na fase em que prefiro rejeitar esse tipo de amor. Não me ofereça amor incompleto, inconstante, que precisa ser mendigado. Transbordo sentimento e não quero nada que não me caiba. O vazio eu já tenho. Se é para amar, que seja sem medidas, sem vírgulas, sem pausas incertas. Que invada tudo. Amor é poesia, mas também é música. Amor se faz presente. Ele pode ser silêncio, mas também é som. Pode ser ausência momentânea, mas nunca abandono.
O amor que se esconde, que se oferece aos pedaços ou que vacila diante da vida, no fim, não é amor. Porque amar é estar presente, ainda que de forma simples. É um gesto, um cuidado, uma palavra na hora certa. O que não encontra espaço na rotina, o que se faz ausente na hora que mais importa, talvez nunca tenha sido amor de verdade.
Presto atenção naquelas pessoas que dizem amar, mas cujas ações contradizem suas palavras. Amar é mais do que dizer "eu te amo"; é demonstrar esse amor. É se preocupar, incentivar, apoiar. É estar lá, ainda que seja em pequenos gestos. É responder a um chamado, é lembrar sem que precisem lembrar você.
Definitivamente, o amor é muito falado, mas pouco demonstrado. É um sonho que muitos têm, mas poucos vivem. E, no entanto, é a única coisa capaz de nos resgatar da solidão, da indiferença, da apatia. O amor nos faz humanos, nos conecta uns aos outros, torna a vida melhor. Mas, para isso, ele precisa ser vivido em sua forma plena.
Amar é uma escolha. A escolha de estar presente, de cuidar, de se importar. Que possamos, então, cultivar esse amor não apenas em palavras, mas em ações. Que possamos olhar nos olhos, dizer o que sentimos, nos fazer presentes. Porque, no fim, é isso que realmente importa.
* Para acompanhar esta reflexão sobre o amor, escolhi a escultura Eros e Psiquê, de Antonio Canova, um dos maiores escultores do neoclassicismo europeu. Ele eternizou em mármore a história de Eros e Psiquê, um dos mais belos mitos sobre o amor. Psiquê era uma jovem de beleza extraordinária, o que despertou a inveja de Afrodite. A deusa ordenou que seu filho, Eros, a fizesse se apaixonar pela criatura mais terrível que existisse, mas o plano falhou: ele próprio se apaixonou por ela. O romance foi marcado por desafios e separações, até que, após provações e superações, Zeus concedeu a Psiquê a imortalidade, permitindo que ela e Eros vivessem juntos no Olimpo. Um raro final feliz na mitologia grega, que simboliza a força do amor que persiste, enfrenta obstáculos e se torna eterno.
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