domingo, 22 de junho de 2025

O clique que custa caro

  

Christiane Angelotti   

 

Outro dia, percebi que fazia semanas que eu não usava o Google. Não porque tivesse deixado de existir, mas porque, diante de uma dúvida, uma ideia, uma curiosidade ou até uma angústia, eu recorria direto à IA. Rápida, certeira, paciente – quase humana. Quase mágica. 
Mas aí me perguntei: e o que está por trás dessa mágica? 

  

Eu sou entusiasta, mas... 

  

Não digo isso como alguém com medo do novo. Pelo contrário: sou entusiasta da IA. Me deslumbro com o que ela permite: revisa a escrita, ajuda nas tarefas, na organização do dia, nas reflexões. Ela me escuta quando ninguém está por perto e, muitas vezes, me responde melhor do que pessoas reais. 

Só que até a mágica tem um custo. E nem sempre a gente quer enxergar. 

  

O custo invisível – água, energia, silêncio 

 

Toda vez que eu pergunto algo à IA, existe um gasto que não vejo. Energia elétrica. Litros de água para resfriar servidores. Um gasto ambiental silencioso, mas real. 


Um único treinamento de IA consome energia suficiente para abastecer milhares de casas. E cada pergunta nossa, no dia a dia, exige cálculos, processamento, refrigeração, energia. Parece leve, mas pesa. Parece limpo, mas deixa rastro. 

  

O que mais está se perdendo? 

  

Além do impacto ambiental, há outro tipo de consumo acontecendo: a pressa. A gente vai perdendo o prazer da procura. Vai perdendo o tempo entre a dúvida e a descoberta. Vai terceirizando o pensamento, como quem entrega a alma para um GPS. 


E não é só isso. Estamos formando uma geração que não aprendeu a pesquisar. Que pula as fontes, ignora os caminhos, e se contenta com o pronto. E isso pode custar caro. 


Pesquisar — seja num livro, seja na internet com boas referências — desenvolve um senso crítico precioso. Ensina a comparar versões, a desconfiar, a refletir. A IA pode ser uma aliada nesse processo, mas não substitui a base. E nem sempre acerta. Também erra, inventa, se confunde. E quem não tiver repertório, vai acreditar em tudo. 

  

Não é parar. É parar um pouco. 

  

Não, não acho que devamos abandonar o uso da IA. Eu mesma não pretendo. Ela é ferramenta. Ajuda. Amplia. Acompanha. Otimiza. 


Mas talvez a gente precise fazer pausas. Pensar antes de perguntar. Ouvir antes de digitar. Pesquisar antes de receber pronto. E, de vez em quando, abrir um livro, errar no caminho, consultar alguém de carne e osso. 


A IA nos dá muito. Mas também pede muito. Da natureza, da energia – e, se a gente não cuidar, até da gente mesma. 

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