Christiane Angelotti
Dedico ao meu leitor beta,
Márcio.
A observação é a alma
de quem escreve e registra.
Luzes
se acendem antes que a noite chegue por completo, como quem tenta afastar o
medo do escuro com pressa.
Nas
sacadas dos prédios, ninguém se olha. Mas as janelas acesas piscam feito
vagalumes urbanos.
Cada
uma guarda uma história.
Cada
uma esconde uma ausência. Uma tristeza.
Eu
caminho pela cidade como quem escreve um diário invisível. Na minha mente.
Penso
em como vivemos tão próximos — e tão desconectados.
Temos
rede, wi-fi, aplicativos, emojis..., mas quase nunca um encontro que dure mais
que uma distração.
A gente desliza o dedo, mas não toca.
Abre
conversa, mas não escuta.
Troca
selfies, mas não olha no olho.
Não
enxergamos uns aos outros.
Eu
não sei quem nos ensinou tanto medo.
Medo
de nos entregarmos, medo de não sermos o suficiente, medo de sermos descobertos
demais.
Medo
de gostar.
Medo
de amar.
Medo
de ser o único que ficou.
Medo
de sofrer. Medo de viver.
Por
isso, a gente vira especialista em ficar só.
Em
construir muros invisíveis que se parecem com liberdade.
Mas
são só solidão envernizada.
E,
mesmo assim, a gente segue tentando.
Marca
cafés que nunca acontecem.
Promete
encontros que escorrem pelo ralo da semana.
Ou
aposta em encontros fugazes.
A
gente gosta de prometer.
Cumprir
exige presença, exige tempo, exige coragem.
E
coragem anda cara.
É
possível amar no meio disso tudo?
É
possível ser bom amigo, ser abrigo, ser parceiro, ser real?
Eu
não sei. Mas eu ainda acredito.
Debussy
toca baixinho no meu ouvido enquanto escrevo.
E
essa melodia me lembra que a beleza ainda mora nas pausas.
Nos
silêncios que ninguém ouve, mas que dizem tanto.
Quem
sabe um dia a gente aprenda a escutar?
Hoje,
só deixo registrado mais um parágrafo do meu diário.
De
uma paulistana que ainda sonha com vínculos verdadeiros.
E
que, apesar da dureza do concreto,
ainda
tem esperança de encontrar o outro —
não
no aplicativo,
mas
numa esquina qualquer da vida.
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